Mais de dois terços da área afetada pelo fogo no Brasil estavam em locais de vegetação nativa. Juntos, o Cerrado e a Amazônia concentraram cerca de 86% da área queimada pelo menos uma vez no Brasil.
Um em cada quatro hectares do Brasil pegou fogo nos últimos 40 anos. É o que aponta levantamento realizado pelo MapBiomas Fogo. Segundo o estudo, entre 1985 e 2023, foram 199,1 milhões de hectares queimados pelo menos uma vez no Brasil.
Segundo o documento, os três municípios que mais sofreram com queimadas nesse período foram Corumbá (MS), no Pantanal, seguido por São Félix do Xingu (PA), na Amazônia, e Formosa do Rio Preto (BA), no Cerrado.
Um hectare equivale a 10 mil metros quadrados. Isso dá um quadrado com lados de 100 metros. É mais ou menos o tamanho médio de um quarteirão residencial no Brasil, ou um pouco maior que um campo de futebol oficial.
O MapBiomas é uma iniciativa que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia, focada em monitorar a cobertura e uso da terra no Brasil. O MapBiomas Fogo é um departamento do instituto, onde realizam um mapeamento das áreas queimadas no Brasil.
O estudo traçou também o perfil da área afetada pelo fogo:
▶️ Mais de dois terços da área afetada pelo fogo no Brasil estavam em locais de vegetação nativa (68,4%);
▶️ Um terço estava em terrenos utilizados pelo homem, como por exemplo, pastagem e agricultura (31,6%);
▶️ 60% de toda área queimada estavam em imóveis privados;
▶️ Quase metade da área queimada (46%) está concentrada em três estados: Mato Grosso, Pará e Maranhão.
"A cada ano, uma média de 18,3 milhões de hectares, ou 2,2% do país, são afetados pelo fogo", avalia o estudo do MapBiomas Fogo.
O MapBiomas detalha também como o fogo atingiu cada bioma brasileiro. "Os meses de julho a outubro, estação de seca, concentram 79% das ocorrências de áreas queimadas no Brasil. O mês de setembro, sozinho, responde por um terço do total (33%)".
Cerrado e Amazônia
Os dados mostram que cerca de 65% da área afetada pelo fogo no Brasil foi queimada mais de uma vez nas últimas quatro décadas, sendo o Cerrado o bioma com a maior quantidade de área queimada recorrente.
Juntos, o Cerrado e a Amazônia concentraram cerca de 86% da área queimada pelo menos uma vez no Brasil. No Cerrado, foram 88,5 milhões de hectares, ou 44% do total nacional. Na Amazônia, queimaram 82,7 milhões de hectares (42%).
"Embora Cerrado e Amazônia tenham números absolutos semelhantes de área queimada, esses biomas têm tamanhos diferentes. Por isso, no caso do Cerrado, a área queimada equivale a 44% de seu território; na Amazônia, esse percentual foi de 19,6%, ou seja, um quinto da extensão do bioma", explica o documento.
Segundo a pesquisadora e coordenadora do MapBiomas Fogo, Ane Alencar, a Amazônia enfrenta um risco maior com a repetição de incêndios, já que a vegetação "não é adaptada ao fogo". Assim, a biodiversidade e a degradação da vegetação somadas à seca e às chuvas escassas são "insuficientes para reabastecer o lençol freático, intensificando a vulnerabilidade da região".
O documento explica que na Amazônia "o fogo é causado principalmente pelo desmatamento e práticas agrícolas. Como se trata de um bioma extremamente sensível ao fogo, o resultado é uma grande perda de biodiversidade."
Com relação ao Cerrado, o bioma é adaptado ao fogo e depende de queimadas naturais e controladas para manter o ecossistema. Entretanto, outros incêndios podem prejudicar o bioma.
"O bioma tem sofrido com altas taxas de desmatamento, o que resulta no aumento de queimadas e no risco de se tornarem incêndios descontrolados, alterando o regime natural do fogo. Essas mudanças impactam negativamente o equilíbrio ecológico, pois o fogo, embora seja um componente natural do Cerrado, está ocorrendo com uma frequência e intensidade que a vegetação não pode suportar", alerta Vera Arruda, coordenadora técnica do MapBiomas Fogo e mestre em Ciências Florestais pela Universidade de Brasília (UnB).
Fonte:g1
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